Emoções: Problemas ou Soluções? Parte 1 – Tristeza

Você já ouviu falar em Paul Ekman? Talvez não, mas já deve ter assistido ou pelo menos ouvido falar no filme Divertida Mente, né? Espero que sim, porque esse filme é IMPRESSIONANTE e muito certeiro no que diz respeito às emoções e como elas podem dirigir nossos comportamentos. É mais um daqueles filmes “de criança” que não são exatamente pra crianças, mas não só por causa de piadas que somente adultos entendem. Esta obra, especificamente, conta com uma certa maturidade do espectador pra nos dizer uma coisa muito importante: as emoções estão conosco, gostando ou não, e viver envolve lidar com elas. E a gente lida melhor com aquilo que a gente conhece, né?

Mas e o Paul Ekman, quem é? Bom, ele é um psicólogo americano, apenas o maior nome na área das emoções atualmente, e foi um dos consultores que trabalhou no desenvolvimento deste filme tão maravilhoso. Ou seja, não estamos falando de um simples roteiro bem feito, mas também de um quase manual lúdico das emoções básicas humanas, se assistido com a devida atenção. Então vem comigo nessa série de posts mensais sobre emoções, passeando pelo filme, bebendo sem moderação do livro A Linguagem das Emoções (também do queridão Ekman), começando por uma das mais evitadas, indesejadas e mal vistas das emoções básicas: a Tristeza.

Mas antes de falar especificamente sobre essa emoção que tendemos a considerar negativa, precisamos começar com uma informação que norteia toda a discussão a respeito das emoções: elas possuem função. Mesmo as mais desagradáveis, como a tristeza e a angústia. Portanto, apesar de haver casos em que a medicação pode ser necessária (como em casos graves de depressão), lidar com a tristeza ou a angústia abusando do uso de remédios pode acabar inibindo a expressão dessas emoções. E uma das funções da tristeza é uma função evolucionista: a de “chamar a atenção dos outros para que observem as expressões, sintam preocupação e queiram dar consolo “, segundo Ekman. Isso permite que pessoas possam reagir às nossas expressões e nos ajudar. Lembram da cena da Tristeza consolando o amigo imaginário da protagonista no filme? É basicamente isso. Existe uma demanda interna, um sofrimento psíquico, e as vezes o início da cura é a atenção de alguém, que pode nos encaminhar para um socorro especializado ou já socorrer ali mesmo, apenas com o acolhimento.

 

E não são apenas os remédios que podem inibir nossa expressão de tristeza e de angústia. Nós mesmos fazemos isto diversas vezes. Somos ensinados desde crianças a “engolir o choro”. Claro que quando adultos, é também bastante útil a habilidade de não demonstrar tristeza ou angústia. O problema é que isto deveria ser um gerenciamento, e não um bloqueio. Aprendemos a vida toda a segurar, mas não se pode levar a vida toda para aprender a demonstrar. Taquei a frase de efeito na sua cara e saí correndo.

Vocês já devem estar de saco cheio de ler “tristeza ou angústia” o tempo todo nesse post, né? Por que não falar só tristeza, se o post é sobre ela? É que não dá pra falar de uma delas sem mencionar a outra, porque elas andam juntas, apesar de diferentes. Vamos lá, primeiro as diferenças: na angústia lidamos mais ativamente com a perda, na tristeza, mais passivamente. Na angústia há protesto, na tristeza há resignação e desesperança. E o processo é basicamente alternado: a pessoa sofre uma perda e é tomada por uma angústia protestante. Depois de um tempo, o que fica é uma tristeza resignada. Depois volta a angústia, e por aí vai. Dentro da mente da menina do filme, vemos uma Tristeza bem focada na passividade, bem resignada, que se joga no chão e não quer levantar. Apesar de alguns momentos de angústia.

 

No filme, Riley é uma pré-adolescente, ainda aprendendo. Ela precisa de ajuda. E não é à toa que o momento em que ela supera suas dificuldades é liderado pela ação da sua Tristeza. Ela expressou a emoção através das expressões do rosto, que são universais nas emoções básicas (sim, caras de tristeza, raiva, medo, nojo e alegria possuem sempre as mesmas características em toda a espécie humana, independente da cultura) e recebeu a atenção devida dos pais. Ela precisava perceber a perda da infância e aceitar a transição pela qual estava passando para seguir para uma nova fase da vida. E a tristeza é a emoção básica que tem essa função de introspecção, permitindo esse avanço.

 

Agora, já mais madura, suas emoções já apresentam mais cores, mais complexidade, deixando claro que não vivenciamos sempre isoladamente as emoções. Elas se misturam e se comunicam. Uma angústia pode estar puxando com ela uma leve raiva direcionada ao que se perdeu, assim como uma tristeza por uma perda que ainda está para acontecer provavelmente vai vir dominada por uma boa dose de medo.

 

E nem adianta falar que é estranho encarar a tristeza como algo que pode ser bom se você gosta de ouvir música melancólica e ver filme triste. Você gosta de tristeza, não negue. As pessoas que realmente não gostam dela simplesmente fogem desse tipo de experiência. Todos conhecemos pessoas assim. Dos dois tipos. E nenhum deles é necessariamente problemático. Depende do quanto se busca e do quanto se foge da emoção.

Antes de encerrar o assunto tristeza não dá pra não falar de depressão. É um assunto bem menos colorido do que o filme, mas tem tudo a ver com tristeza e angústia.

De forma didática: Emoções duram segundos ou minutos e são mais intensas, são o primeiro impacto. “Fiquei triste quando algo aconteceu, mas passou, vida que segue.”

Estados de Ânimo duram horas ou dias, podem ser resquícios prolongados de uma emoção. “To triste porque algo aconteceu, fico lembrando, ta mexendo com meu dia a dia, mas um dia passa.”

Traços de personalidade duram uma fase inteira da vida, tipo “quando eu era adolescente vivia melancólico”. As vezes dura até a vida toda.

Distúrbio Mental é quando essas características afetam sua vida pra além de enfiar fones de ouvido e ficar ouvindo Lana Del Rey o dia todo. Nos Distúrbios Mentais as emoções são vivenciadas com intensidade acima do que conseguimos gerenciar, e monopolizam as questões, não dão espaço para as outras emoções. Esse é o caso da Depressão. Te afeta pra comer, pra trabalhar, pra conviver com as pessoas, pra lidar com você mesmo. E se a depressão for mais dominada pela tristeza, ela é uma depressão retardada, e se for dominada pela angústia, depressão agitada.

Essa diferenciação toda é útil por alguns motivos: Primeiro, entender que triste não é igual a deprimido. Segundo, entender que deprimido não é igual a deprimido, no sentido de que existem expressões diferentes da depressão. Terceiro, apesar das diferenças, a função evolucionista da tristeza e da angústia serve pra depressão também. Havendo expressão, isso é um pedido de atenção. Lembrando que não é um convite à intromissão também. Perceber a tristeza alheia não significa ter o direito de ser inconveniente. Ser disponível sempre é bom. Ouvir ajuda a pessoa ouvida a se sentir melhor, e a pessoa ouvinte a entender melhor qual pode ser o papel dela numa possível ação para dar suporte. O ideal talvez seja não ignorar nem forçar uma barra.

Bom, é isso por hoje. Basicamente queria dizer que a Tristeza não é tão vilã quanto a gente gosta de achar, pelo menos não mais que qualquer outra emoção. Os distúrbios são o problema, e de resto elas podem até ser solução. Entendendo suas funções a gente aprende a não piorar as coisas quando as emoções batem na porta, e podemos resolver coisas que sem elas não teríamos como. Mas pra quando vocês não estiverem nada dispostos a lidar com a Tristeza ou com a Angústia (a gente não é de ferro, tem dia que simplesmente não dá), lembre-se que pesquisas mostram que, assim como emoções provocam expressões (ficar triste faz chorar), expressões também podem gerar emoções (forçar um choro faz ficar triste!). Então por mais clichê que isso soe… o melhor remédio pra tristeza é o sorriso. Sério, tente num dia triste ficar sorrindo, mesmo sem motivo. E não esquece de comentar aqui o resultado 🙂

Post Author: Felipe Lyrio

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