Por que casamos? 5 filmes vão te explicar

Dia dos namorados chegando e esse texto é pros migos e migas que estão todos borocoxô porque não tem companhia pra passar 2 horas na fila do restaurante. Precisamos falar sobre essa necessidade de namorar e casar, e precisamos falar urgentemente. A cada ano que passa a taxa de divórcio só cresce, o número de pessoas que admitem que traem os parceiros só aumenta, mas os buffets de casamento continuam a todo vapor faturando fortunas com as tão sonhadas festas. Apesar do número de casamentos estar sim caindo com os anos, ainda temos muitos miguxos gastando o preço de um carro ou o valor da entrada de um apartamento pra celebrar a união. Nada contra quem tá nessa vibe, se a cerimônia te fez feliz é o que importa, mas o problema é que essa tradição do matrimônio molda a nossa sociedade, e quem não tá nessa pilha, ou quem ainda não encontrou o parceiro ideal sofre, e muito.

É aí que entra nossa análise sobre filmes e fatos históricos trabalhados nesse tema, pra gente tentar entender o motivo de tudo isso. Casamento, festa, família tradicional, filhos. De onde vem essa receitinha? 5 filmes aclamados vão nos ajudar a entender!

Antes de entrar na análise dos filmes, vamos voltar um pouquinho e fazer um breve histórico sobre as origens do casamento:

A palavra casamento
Casar vem mesmo de CASA. É obvio, mas nunca pensamos nisso, né? O ato de casar está diretamente ligado à casa, pois “no antigo sistema patriarcal, os pais casavam os filhos (em oposição à hoje, em que os filhos se casam), porque para isso eles tinham de ceder uma parte de sua propriedade (casa e terras) para o sustento e a moradia da nova família” segundo o site HR idiomas. Ou seja, casar sem morar na mesma casa não existe. “O ato do matrimônio traz o estabelecimento de nova casa”. Então pombinhos, se quiserem mesmo seguir à risca a tradição do casamento, é mais importante ter a casa própria do que uma festa de arromba, fika dika.

A palavra noiva
Do mesmo site: “Noiva vem de nupta, que quer dizer “coberta”, isto é, com o véu, que na Roma antiga significava submissão ao marido.” Tensinho, né? Quer dizer, achamos lindo o véu da princesa Meghan Markle e pagamos pau pra todo aquele look e aquela cerimônia, sem prestar atenção aos significados: o véu para cobrir a propriedade do marido, o vestido branco que significa pureza e castidade, o buquê de flores que significa fertilidade, porque claro, mulher tem que procriar, né… Uma sequência de significados machistas que já deveriam estar mega ultrapassados, mas que não paramos de repetir.

Damas e pajens
Da revista Mundo Estranho: “As damas de honra existem desde a Antiguidade, quando as noivas se casavam ainda crianças e precisavam da ajuda das irmãs para se vestir. Os padrinhos surgiram na época em que os matrimônios eram arranjados pelos pais do casal. Escolhiam-se padrinhos para tornar a união reconhecida pelo restante da sociedade”. Tenso feat faça parar né, mores?

Os primeiros casamentos

Do site Mundo Educação: “as primeiras formas de casamento eram vistas como ferramentas de manutenção de relacionamentos entre grupos sociais. As sociedades tribais anglo-saxãs, por exemplo, viam no casamento uma forma de estabelecer alianças e conquistar aliados, constituindo relações diplomáticas e laços econômicos.”

E isso não mudou nada quando chegamos na Europa medieval, onde os casamentos eram arranjados e só serviam para unir famílias, conseguir riquezas, aumentar o poder, ampliar o domínio para o outro reinado etc, etc, etc. Quando vemos todas as origens e significados dessa cerimônia dá uma preguicinha de seguir pelo mesmo caminho, não dá? Afinal, por mais que hoje em dia na nossa sociedade o casamento seja feito com consentimento dos cônjuges, ainda assim todos os seus rituais reproduzem os símbolos do passado. E a reprodução massiva desses símbolos, mesmo que resignificados, perpetua o machismo mores, não tem jeito. Mulher que não quis casar pra aproveirar a solteirice é taxada de puta, ou então de baranga porque “não arrumou marido”, se não tem filho é egoísta, se divorciou é porque é problemática, se passou dos 30 tá muito velha pra casar. Basta ver quantas notícias saíram a respeito da Meghan Markle ser divorciada e ressaltando sua idade, acima dos trinta e mais velha que o príncipe Harry. Não dá pra esperar que esses pensamentos mudem se continuamos reproduzindo fielmente os rituais do passado.

Vamos então aos filmes que nos mostram o dia a dia da vida do povo que vivia pra casar e que, além de terem aumentado meu ranço já forte a respeito de casamentos, ainda me fizeram pensar WHY? WHY ainda fazemos isso?

ORGULHO E PRECONCEITO

Minina, que preguiça dessa vida de antigamente. Nesse filme baseado no livro de Jane Austen, que se passa no início do século XIX, a mãe tinha 5 filhas e seu único objetivo na vida era casar as 5. Por que? Porque mulher não podia trabalhar, então se a filha não casar o pai vai ter que sustentá-la pra sempre. Porém eles eram pobres e não tinham dinheiro pra pagar o dote e nem qualquer atrativo para alguém querer se unir a essa família. Logo, o filme é puro desespero da mãe e das filhas para arranjar o casamento de todas antes que elas fiquem velhas.

Pai, mãe, e as 5 filhas desesperadas pra casar. 

Ainda vemos uma das filhas ser quase obrigada a casar com um pretendente rico e, ao se recusar, causar um rebuliço na família. Outra jovem que aceita se casar com ele admite que não o amava, mas pelo menos passou a ter sua própria casa. Terminei esse filme com um ranço tremendo de casamentos e pensando “que saco viver nessa época”, mas logo depois me ocorreu que em pleno 2018 ainda vejo meninas loucas pra casar, na mesma vibe desse filme aí. Pra quê isso, gente? Naquela época ainda existia um motivo pro casamento, senão a mulher não teria como se sustentar, mas hoje isso não faz mais sentido.

httpssss://www.youtube.com/watch?v=Y6XneqkfD3c

Agora pausa rápida pra comentar sobre esse elenco, né, gente. Tirando a insuportável Keira Knightley temos:

Jena Malone 

Amo essa menina desde o maravilhoso filme Lado a Lado, onde ela fez a filha da Susan Sarandon.

E depois em Jogos Vorazes, em que ela fez a maravilhosa Johanna Mason:

Ela ainda fez a Jodie Foster criança no filme Contato, nessa cena impossível de filmar através do espelho:

Outra excelente atriz que veio nesse filme é a Rosamund Pike, que fez papel de satanás no filme Garota Exemplar.

Tem ainda a querida Carey Mullignan, do excelente filme Drive:

E se você reparar bem, tem também a menina de Westworld, Talulah Riley:

Que time, hein, senhoras e senhores!

 

UMA JANELA PARA O AMOR

Esse filme é dirigido pelo James Ivory, o ganhador de melhor roteiro adaptado por “Me chame pelo seu nome”. Foi lançado em 1987 e ganhou o Oscar de melhor roteiro adaptado, melhor figurino e melhor direção de arte. Parece promissor né, então fui conferir. Mas a história é a mesma lenga lenga de sempre, mulheres de época desesperadas por um bom casamento. Com alguns detalhes interessantes. Temos o Daniel Day Lewis num papel mega esquisito como o pretendente perfeito da Helena Bonham. E ela faz o papel de uma menina rebeldinha que vai tentar casar com a pessoa que ela ama e não com o pretendente que sua família acha melhor.

– Casa comigo Helena?
– Você está louca querida, tu é chato bagarai

Esse filme vale pelos atores e pelas paisagens lindas, pois se passa em Florença! Mas a história só serve mesmo pra aumentar o ranço contra essa nossa sociedade que só sabe empurrar as mulheres pro casamento.

 

A ÉPOCA DA INOCÊNCIA

Esse filme maravilhoso tem o seguinte currículo: o diretor é o Scorsese, o casal principal é ninguém menos que Daniel Day Lewis e Michelle Pfeiffer e, de quebra, ainda tem a Winona Ryder também. Te juro que esse foi um filme que eu terminei de ver e voltei pro início imediatamente pra começar a ver de novo, tamanha a transformação na atuação do Daniel. Ele começou o filme de um jeito todo meiguinho, mas toda a amargura por não conseguir consolidar sua vida amorosa fez ele ir mudando gradativamente, até ficar completamente sisudo no fim do filme.

httpssss://www.youtube.com/watch?v=-HbZmFd8ONY

Aqui temos a história de uma moça divorciada (um verdadeiro palavrão em 1870, quando o filme se passa), que fica completamente mal falada na sociedade por isso. Daniel Day Lewis se apaixona por ela, mas já tem à sua espera uma moça perfeitinha pra casar e com passado “limpo”, a Winona Ryder. O filme inteiro expõe e denuncia o preconceito com mulheres divorciadas, mulheres que não se casam, mulheres que não tem um bom marido, mulheres com hábitos estranhos tipo sair sozinhas em festas (!), mulheres com vestidos feios (!!) etc. É um tal de falar sobre vestidos, fazer fofoca da vida alheia, planejar casamentos, impedir as pessoas que se amam de ficarem juntas, que dá desespero só de pensar em viver em uma sociedade assim… Não, péra, a gente ainda vive, não? Assiste o filme e depois me fala se mudou tanto assim a cabeça dos conservadores de 1870 para os dias de hoje. Se a gente se deixar levar acaba igualzinho o Daniel nesse filme, triste e amargurado por seguir o que a sociedade esperava dele ao invés de seguir o desejo do seu coração.

E o troféu sonsiane vai pra Winona Ryder nesse filme

 

RAZÃO E SENSIBILIDADE

E toma mais romance da Jane Austen com mocinhas em busca do casamento ideal, só que aqui elas são APENAS as maravilhosas Emma Thompson e Kate Winslet, as irmãs que representam a razão e a sensibilidade que dão título ao filme. Nessa história, as irmãs perdem a casa em que moravam, pois o pai delas morre e a casa passa para o único filho homem. Ainda tem isso, né gente, as mulheres não podem trabalhar e ainda por cima todas as propriedades dos pais passam pros filhos homens, ou seja, só restava para a mulher se casar mesmo se quisesse sobreviver. Pra piorar, os mocinhos que se apaixonam por elas são impedidos por suas famílias de levar o casamento adiante, porque elas são pobres. Mais um filme que expõe a insuportável sociedade do século XIX e nos faz pensar se ainda não temos quase o mesmo pensamento nos dias de hoje – bem mais camuflado, mas igualmente machista.

httpssss://www.youtube.com/watch?v=wHVHC4G5WEE&t=5s

 

A JOVEM RAINHA VITÓRIA

Um dos melhores filmes dessa lista, aqui acompanhamos a história da importantíssima rainha Vitória na sua juventude, antes de assumir o trono e nos anos do início do seu reinado, quando era pressionada de todas as formas por seus parentes e conselheiros a se casar o quanto antes, e deixar todas as decisões políticas nas mãos do marido. A gente pensa que vida de rainha é fácil, mas essa garota sofreu o cão até atingir a maioridade, se tornar rainha e tomar as rédeas da própria vida. Com apenas 18 anos, quando assumiu o trono, ela se opôs a toda pressão e se recusou a casar, tentando ficar o máximo de tempo possível sozinha para decidir ela mesma as coisas do reino. Afrontosa demais, vale a pena assistir, é uma aula de empoderamento.

Quando finalmente encontra um pretendente por quem se apaixona, ela coloca o cara na geladeira dizendo que quer ficar sozinha e reinar sozinha e que não precisa de ajuda. Pá!!! Só anos depois ela baixa a guarda pro rapaz, pede ele em casamento, e juntos eles são responsáveis por uma das épocas mais prósperas do Reino Unido, a era Vitoriana.

httpssss://www.youtube.com/watch?v=ZquJwXMeuIw

Nesse filme fica claro também o objetivo principal dos casamentos daquela época, que era unir reinos, ou mesmo ter pessoas da realeza de um país “infiltradas” na realeza do outro país e assim conseguir informações e ampliar sua influência no outro reino. Tensão total ver o quanto príncipes e princesas são manipulados pelos pais com seus casamentos arranjados para cumprir apenas objetivos políticos.

 

Depois dessa listinha deu pra entender melhor o que o casamento representa na nossa sociedade? Será que precisamos perpetuar essas tradições? E mesmo que você curta toda a pompa em torno da tradicional cerimônia, é sempre legal saber de onde vem cada símbolo que você vai reproduzir no tão sonhado dia.

Ah, Ana, mas eu nem quero casar, só queria encontrar aquela pessoa especial pra dividir a vida comigo, e esse dia dos namorados me faz lembrar que tô mais um ano solteiro/a! Miga, migo, não fica assim. Essa data só serve pra sociedade mais uma vez nos impor que temos que estar sempre junto com alguém, igualzinho nesses filmes aí, e pro comércio vender mais, é claro. Não precisamos estar junto com ninguém pra ser feliz. É claro que o ser humano (e praticamente todos os animais) precisa de contato social, mas podemos encontrar isso nos nossos amigos e na nossa família. Partilhar sua vida totalmente com alguém como num casamento só vale a pena se a pessoa vier pra somar e não pra diminuir. Do contrário, é muito melhor passar essa e outras datas junto das pessoas que te divertem e tem real afinidade com você!

Até mais, pessoal!

 

Post Author: Ana Campos

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