Diversidade Animada: como os desenhos estão mais nonsense e ao mesmo tempo mais realistas do que nunca

Um adulto desavisado que sem querer sintonize no Cartoon Network pode dar de cara com algumas das (aparentemente) mais loucas produções animadas que ele já viu. Claro que depois de assistir por 0,5 segundo ele vai soltar um “nossa, na minha época os desenhos eram bem melhores” e voltar a assistir o show de horrores do noticiário da Globo News. Mas o desinteresse dos adultos que não gostam de desenhos, ou mesmo dos que gostam, mas vivem presos na nostalgia e não se permitem apreciar a evolução da linguagem – e da mente das crianças – não vai impedir que se continue produzindo esse tipo de animação que está revolucionando a cultura pop e educando toda uma geração.

Em um mundo cada vez mais rápido onde o audiovisual disputa a todo segundo a atenção do seu espectador com a internet, onde a produção de conteúdo foi expandida amplamente graças a diversos softwares e acesso global à tecnologia, onde o consumo está cada vez mais voraz e instantâneo, a ilusão dos adultos presos ao passado de que se faça um desenho “quadro a quadro” com ilustrações detalhadas (mas com frames que duram 1 minuto inteiro na tela apenas com a narração no fundo) é cada vez mais estapafúrdia. Os traços ficaram mais fluidos, a diversidade de estilos em uma produção é cada vez mais presente e o ritmo das histórias tem que acompanhar a cabeça das crianças que crescem no cenário atual – ou seja, não pode parar!

Nem todos os desenhos vão ser iguais a He-Man

Assim, cenas como um menino humano e seu cachorro mágico falante festejando com ursos dentro da barriga de um monstro; mulheres extraterrestres – que na verdade são pedras preciosas – se fundindo em uma única “mulher gigante”; uma tigresa que solta arco-íris pelo bumbum e anda numa van acompanhada de seus amigos – uma fatia de pizza, um dinossauro e um velho maluco – disputando o amor de um ídolo teen com uma rata; um menino comendo 500 ovos cozidos e depois transmitindo uma virose para a escola inteira; dentre tantas outras, vão sim ficar cada vez mais comuns.

Só que se você observar apenas estes detalhes (sim, estes são apenas detalhes) e julgar que se tratam apenas de “mais histórias malucas” então você está perdendo tudo o que importa desses desenhos.

É natural!

Apesar das coisas aparentemente sem sentido, que estão ali para entreter, divertir e prender a atenção do espectador, grandes mensagens são transmitidas para as crianças desta nova geração de uma forma simples e eficaz: tratando tudo com naturalidade.

Deste modo, em meio às histórias insólitas, não dá para achar estranho as duas mães do coleguinha de escola do personagem principal, que são mostradas apenas como um casal comum (como deveria ser sempre). Tão pouco nos incomodamos com o biscoito que queria ser princesa para tornar os dias de todos mais felizes. Menos ainda com as duas extraterrestres que se amam e vivem fundidas como uma pessoa só.

 

Estas duas últimas, aliás, foram responsáveis pelo que pode ser considerado o primeiro casamento gay de um desenho animado (já que ambas tem forma feminina). Um marco da cultura pop tratado sutilmente e focando no que importa: o amor. Dificilmente alguém estranhou ou teve aversão ao casal, já que em meio a lutas intergaláticas e confusões na Terra elas tiveram sua história mostrada de forma muito bonita e humana.

httpssss://www.youtube.com/watch?v=-kGLLNUWRNY

Outro caso nos mostra ainda uma metáfora de demência (como Alzheimer e outras doenças degenerativas), mostrando a evolução de um personagem que ao colocar uma coroa mágica vai perdendo sua memória e “se transformando em outra pessoa” esquecendo dos que eram próximos a ele e causando estranheza – personagem este retratado como um idoso. Este assunto sério, no entanto, é tratado de forma divertida e emocionante. Talvez levando os pequenos a ter um pouco de compreensão e tolerância com o que alguns avós podem estar vivenciando.

httpssss://www.youtube.com/watch?v=psCWJDu4tAc

Podemos aqui continuar citando infinitas situações que são tratadas como tabu na vida real, mas os desenhos têm tirado de letra: meninos e meninas sem preconceito com gênero de cores (azul e rosa podem ser de menino e de menina), brinquedos ou brincadeiras, mulheres desempenhando papéis de poder (princesas, heroínas, chefe da casa), diversos tipos de famílias, homens sentimentais e vaidosos e por aí vai…

  

Influência?

Algumas pessoas, contudo, ainda conseguem enxergar problema em falar com naturalidade sobre assuntos tão presentes no mundo real com as crianças. “Má influência”, “doutrinação”, “lavagem cerebral” são algumas das coisas que podemos escutá-los dizendo.

Muito pelo contrário. Como dito, os desenhos mostram com naturalidade diversos estilos de vida e cenários possíveis da realidade. Em nenhum momento há imposição ou uma regra seguida por todos nas histórias. Deste modo a única mensagem transmitida é a de respeito e boa convivência. Os cartoons mostram que tem gente de todo tipo, que somos todos diferentes e que não tem nada demais nisso. Podemos conviver harmoniosamente mesmo não sendo iguais.

“Má influência”, “doutrinação”e “lavagem cerebral” é o que acontecia antes, com todos os personagens seguindo um mesmo padrão e, mesmo que sem querer, ensinando as crianças a crescerem sem saber que havia diversidade no mundo. Não falar sobre respeito e tolerância é uma má influência. Dizer como todos tem que viver a vida deles é doutrinação. Ensinar que você só vai ser feliz e bem sucedido fazendo “isto, isso e aquilo” é que é lavagem cerebral.

Abrindo a mente

Então, se você está desesperançoso com o mundo atualmente, triste com todo o retrocesso e mente pequena que tanta gente tem mostrado por aí, eis um pingo de esperança: as crianças de hoje tem acesso a este tipo de conteúdo e tem tudo para se tornarem pessoas mais tolerantes e de mente aberta, transformando o mundo num lugar melhor no futuro.

Agora, se você também acha que estes desenhos são “muito ruinzinhos” e que “He-man” era muito melhor, talvez esteja na hora de VOCÊ abrir a sua mente e dar uma chance as novas produções do estilo. Apesar de ensinarem muitas coisas para as crianças, nós adultos também podemos nos divertir e aprender com eles. 😉

Post Author: Marcio Oliveira

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