A Favorita: Manipulações e jogos de poder na mira do Oscar 2019

Melhor filme do ano? Já temos. O nome dele é “A Favorita”. E você trate de correr pro cinema agora mesmo para assistir! Uma obra prima dessas bicho, tem que ser degustada na telona! Não sabe do que se trata? Eu te conto um pouco mais.

Sem spoilers por enquanto: Na Inglaterra do século 18, temos uma trama com treta seríssima entre a rainha da Inglaterra e suas damas de honra. É de cair o queixo e ficar grudado na tela apertando o braço do amigo do lado durante o filme inteiro. Yorgos Lanthimos, o diretor E roteirista dos filmes “A lagosta” e “O sacrifício do cervo sagrado”, nos presenteia com um filme de época todo trabalhado em relações de poder e manipulações pra lá de impactantes. Já assistiu o filme A Outra? Aquele onde a Natalie Portman e a Scarlett Johansson disputam o “coração” do rei? Então, pega aquele filme e faz direito, mas faz pra ganhar Oscar. E foi o que o Yorgos fez.

Trilha sonora de arrepiar, montagem alucinante, atuações de outro mundo. E um roteiro que olha, vou te falar. Quando eu achava que tava adivinhando o próximo passo, o roteirista vinha e pá, me mandava “sentar lá Cláudia”.

Se você ainda não tá convencido, dá uma olhada nesse trailer e me fala se não deu um arrepio na espinha:

Ah você já assistiu? Então vamos desmembrar esse babado fortíssimo e comentar com spoilers! Valendo!

Olha pessoal, se tem um filme que ilustre melhor a dinâmica das relações de poder entre as pessoas eu desconheço. Sabe aquela sensação horrível quando você não sabe se alguém te tratou bem por interesse ou porque realmente gosta de você? Agora imagina viver uma vida inteira nessa dúvida. Agora imagina quando você já sabe que todos se aproximam de você por interesse e mesmo assim você aceita resignado essa situação e tira proveito disso. Essa é a figura da nossa rainha. Ciente de que é chata pra caraio e que todos a abandonam, como ela mesma grita, ela sabe muito bem que suas damas de companhia estão ali disputando o seu “amor” por puro interesse. Mas já que ela tá na chuva né, vamo se molhar. O olhar depressivo dessa rainha é realmente desolador. Mas ao mesmo tempo não dá pra sentir pena dela porque é uma pessoa realmente insuportável.

O mesmo podemos falar de suas damas de companhia. A personagem de Rachel Weisz é fria, sarcástica, grossa, nojenta, ambiciosa e horrível. A de Emma Stone é o capeta travestida de anjinho dourado, igualmente horrível. Me lembrou aquele filme “Os 8 odiados” do Tarantino, onde ninguém presta e você não torce por ninguém, não tem empatia por ninguém, apenas assiste chocado a tudo o que aquelas pessoas são capazes de fazer. Acho que era exatamente isso que o Yorgos queria que a gente sentisse. Mas tem mais.

Sabe a vitória de Pirro? Aquela que historicamente é conhecida por ser uma vitória que teve tantas perdas no caminho que mal dá pra ser considerada vitória? Aqui temos um belo exemplo disso. E na minha interpretação o filme é todinho trabalhado em cima desse objetivo. Nos mostrar que as vezes nós até ganhamos, mas o que tivemos que fazer pra chegar lá, valeu a pena?

Emma Stone que o diga. Na maravilhosa cena final foi onde realmente “bateu” essa mensagem do filme pra mim. Naquele olhar, no contra plongée maravilhoso na rainha (técnica que normalmente é usada para enaltecer um personagem mas aqui é milagrosamente desconstruída e mostra a fragilidade dessa mulher) é que entendemos que toda aquela disputa resultou numa conquista muito amarga. E você já não se sentiu assim? Algumas vezes saímos por cima numa situação mas ao custo de tanto percalço no caminho que a vontade de falar pra vida é “valeu, consegui, mas nem precisava, eu tava melhor sem isso”. Acho que foi exatamente o que a Emma Stone estava pensando naquela cena final. E a rainha também.

Algumas dúvidas ficaram no ar pra mim. Na cena final a Emma estava masturbando a rainha ou apenas massageando a perna dela? Naquele nível de doença a rainha ainda tava na pilha de receber uma masturbação ou fez isso só pra humilhar a Emma mesmo? Ela reparou que os coelhos estavam sendo maltratados e por isso resolveu humilhar a Emma pedindo a massagem? Por que então ela não foi lá salvar os coelhos? haha sei lá fiquei preocupada com os coelhos sou muito amante dos animais… Ódio da Emma nessa cena do coelho. Até esse ponto eu não achava que essa personagem era uma psicopata, tava comprando a ideia que ela própria repetia, de que ela apenas estava lutando pela própria sobrevivência, não queria voltar pras ruas, ser estuprada etc. Mas ali ficou claro que ela era uma psicopata ao maltratar animais por puro “prazer”.

Já a Rachel Weisz amava um pouco a rainha ou também estava apenas sendo interesseira o tempo todo como a Emma? Realmente fiquei nessa dúvida. Quando ela fala pra Emma que “estamos jogando jogos muito diferentes”, pra mim pareceu que ela realmente gostava da rainha enquanto a Emma estava apenas sendo falsa. Pra outros amigos que estavam comigo assistindo o filme, pareceu que ela lutava pelo poder político de controlar os rumos do país e da guerra – um objetivo mais “nobre” – enquanto a Emma queria apenas o bem estar próprio. De qualquer forma pra mim a Rachel saiu como injustiçada no fim das contas. A rainha parecia realmente gostar dela, já que esperava tanto as suas cartas. Ou apenas queria o gostinho de saber que a Rachel sentia sua falta? E Rachel também parecia em alguns momentos realmente gostar da rainha e sentir sua falta ou queria apenas voltar para o poder? Fica aí a dúvida no ar.

Se você tem comentários sobre o filme não deixe de postar aqui embaixo! É rapinho vai! Vamos compartilhar todas as opiniões que explodiram nossa cabeça depois de assistir essa obra prima!

Até a próxima pessoal!

 

 

Post Author: Ana Campos

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