Quem é da internet há algum tempo já percebeu que ela vive de ciclos (digo a internet apenas para exemplificar, porque a verdade é que é assim em tudo): começa a surgir um assunto, ele estoura e vira moda, todos querem seguir a tendência, surgem os haters que tentam provar que aquela tendência é péssima, surge o embate entre lovers x haters, ninguém ganha, a tendência perde força, é substituída por outra e assim segue a vida.
Pois bem, está sendo assim com o pensamento positivo. Claro que pensar positivo não é uma modinha de internet, pode ser (e é) inclusive um modo de viver para muitas pessoas. Mas a rede resolveu pegar a positividade e fazer dela a estrela da vez. Parece um passo natural numa terra onde todos tem que parecer perfeitos em todos os aspectos: bonitos, descolados, engajados e com uma mente limpa e positiva.
Até aí tudo ótimo mas vem a outra parte… Claro que os haters (ou pessoas que não curtiram a vibe, como preferirem) não gostaram nada dessa ideia e começaram a apontar os problemas de ser uma pessoa “muito positiva” e logo surgiu o termo “Positividade Tóxica”.
E é na expansão dessa ideia que estamos agora com muita gente propagando o “lado negativo de se ser positivo”, muitas vezes sem nem ter entendido tudo direito.
Mas afinal, existe uma “Positividade Tóxica”?
Apesar de não gostar do nome dado – porque hoje tudo é tóxico menos quem chama as coisas de tóxicas, claro – existe sim uma “positividade tóxica”, como praticamente existe uma versão ruim de qualquer outra coisa.
Só é preciso saber identificar direito o que ela é para que não se caia no erro de achar que só porque a felicidade e o pensamento positivo do outro te incomodam eles são tóxicos. Às vezes o problema pode ser em você, se ver os outros felizes te irrita.
Com isso em mente, no que pensar positivo pode ser prejudicial? Bom, tudo começa com o excesso. Mentalizar coisas bacanas e focar no lado bom das coisas não é ruim. Mas se você quer viver SÓ disso, só pensa nisso, acha que não existe outra possibilidade, então você está sim sendo vítima do lado negativo das good vibes.
Positividade Tóxica na sua vida
O que acontece com alguém que cai nessas armadilhas é altamente prejudicial porque a pessoa para de olhar os dois lados das coisas e começa a ignorar as coisas ruins, já que acha que deve focar apenas nas coisas boas, e não é bem assim que a roda gira.
Se você ignora um problema ele não some sozinho. Você deve encará-lo de frente e lidar com a situação. Pode usar o pensamento positivo pra isso, inclusive, mas não esperar que apenas vibrar boas energias e não agir vá ajudar.
Isso serve para todo tipo de problema, inclusive tristeza. Fingir que está bem o tempo todo quando não se está não vai te ajudar em nada e chegará o momento em que você não vai aguentar e aí a bomba vai explodir. Tudo de forma muito pior do que se você tivesse lidado com a situação desde o início e se permitido viver o momento de tristeza como deveria ter feito.
Positividade Tóxica na vida dos outros
Outra coisa que quem entra na onda errada da positividade costuma fazer é afastar pessoas. A pessoa coloca na mente que “good vibes only” quer dizer se afastar de qualquer outra energia que seja diferente da própria.
Assim ela acha que ninguém pode reclamar perto dela, não pode sofrer perto dela, não pode se quer discutir com ela que já está emanando energia negativa. Logo ela começa a excluir pessoas de sua vida e ao invés de ajudar os outros e espalhar positividade, como deveria ser, acaba propagando exclusão e preconceito.
Claro que existem pessoas com energia negativa e que podem nos afetar se deixarmos. Se afastar destas pode ser uma opção quando começamos a nos sentir prejudicados, mas além dessa ser a última alternativa que devemos escolher, temos que separar bem as coisas.
Reclamar de problemas, tentar resolver situações discutindo ou mesmo sofrer por um motivo pessoal não é emanar negatividade. Pelo contrário, é passar pelo processo necessário para que se possa viver o outro lado da moeda. Uma pessoa realmente positiva vai estar perto quando você precisar de ajuda e não será egoísta e fugirá.
E o que não é Positividade Tóxica?
Agora que já esclarecemos que ela existe e exemplificamos alguns aspectos desse “estilo de vida”, vamos esclarecer que nem tudo é positividade tóxica.
As redes sociais, por exemplo, são muito usadas para exemplificar positividade tóxica e muito associadas a grandes propagadoras dessa “praga”. Mas será que são mesmo?
Obviamente que sendo um reflexo da nossa sociedade as redes sociais nos influenciam e afetam enormemente. Logo os comportamentos descritos acima podem ser notados também no ambiente virtual. Então é possível que existam “positivos tóxicos” por instagrams e facebooks da vida mas fora isso não vejo como dar às redes a maior parte da responsabilidade.
O que costuma ser dito sobre elas é que as pessoas vendem uma vida perfeita, frequentando lugares perfeitos, com corpos perfeitos e sempre felizes e vivendo boas coisas. Isso afetaria quem visualiza, ao comparar com sua vida e se sentir obrigado a ser tão feliz e positivo quanto aquelas pessoas.
Ora, álbuns de família sempre existiram. Regras e ditames da sociedade também. Essa pressão que se fala não é novidade. Nunca vi ninguém querer ficar espalhando por aí seus problemas e tristezas com orgulho e mostrar para as visitas seus álbuns com aos piores momentos. A internet é apenas uma parte da nossa vida
e todos temos que ter ciência disso. O que mostramos lá não é tudo o que somos e só porque não mostramos não quer dizer que não tenhamos vivido. Pelo contrário, os “influenciadores” tem esse nome justamente por influenciarem as pessoas com seus comportamentos (teoricamente) positivos, ajudando assim os outros ao servir de inspiração.
Claro que não quero dizer que a internet é um mar de rosas e que não existem más influências por aí. Estou apenas dizendo que esses problemas não estão diretamente ligados a tal da positividade tóxica. A nossa sociedade é problemática, especialmente com questões como a autoimagem, desde muito tempo e não acho que isso tenha a ver com nenhum tipo de “positividade”.
Além de tudo, também precisamos nos auto avaliar e verificar se, como dito lá em cima, o fato de nos incomodarmos com a aparente felicidade e positividade dos outros está realmente na forma como eles expressam isso em nós mesmos.
A Positividade da Internet
As redes inclusive podem servir pra propagar a boa positividade com campanhas como o “Setembro Amarelo”, grupos de apoio, servindo de palco para muitos novos artistas, compartilhamento de campanhas de busca e arrecadação para pessoas necessitadas e por aí vai. Tudo isso não tem nada de tóxico. São modos de não ignorar os problemas mas tentar resolvê-los de uma forma otimista.
Temos sempre que lembrar que a internet e as redes sociais são apenas ferramentas. Quem causa os problemas somos nós, os usuários. E apesar dessas ferramentas poderem servir de propagadoras e facilitadoras, no caso da positividade eu vejo um equilíbrio razoável. Mas talvez seja só eu pensando de forma positiva…
De todo modo, é preciso que se entenda que a felicidade que se busca ao ser positivo está no equilíbrio, e este só é atingido quando se permite vivenciar tudo o que se deve da maneira adequada. Ser positivo não é ignorar os problemas e as coisas ruins da vida e sim encará-los de modo otimista, buscando sempre um bom resultado com suas ações.
