3 anúncios para um crime – resenha

(análise com spoilers, complementando o post do Especial Oscar 2018 que você encontra aqui)

Filme criativo e necessário, o que mais me impressionou aqui foi ver uma cidade inteira mergulhada num poço de FALTA DE cultura, educação, empatia, amor ao próximo, elementos que parecem nunca terem sido apresentados a essas pessoas. Até o núcleo principal de mãe-filha-filho-ex-marido tem uma relação completamente chafurdada na falta de respeito, patadas, grosserias, violência. E os policiais então, as pessoas que deveriam por ordem na bagunça, as pessoas que deveriam ser os guardiões da justiça e da lei, são exatamente o completo oposto disso. Você pensa meu deus, olha o jeito que essas pessoas falam umas com as outras, olha o jeito que elas tratam umas as outras, como que vai vir daí o senso de justiça tão necessário para solucionar esse crime? É DESESPERADOR.

Um dos pontos altos do filme pra mim é expor o quanto uma mulher precisa criar uma casca grossa pra conseguir viver num mundo de machismo, preconceito, violência contra mulher, injustiça… ninguém está do lado dela, é ela sozinha contra o resto do mundo, sendo que ela também tem seus defeitos e preconceitos, pois também é fruto desse meio bizarro. Mesmo não concordando com muitas de suas atitudes não dá pra não tirar o chapéu pela força que essa mulher tem de ir adiante e não desistir do seu objetivo.

 

Como eu disse no post do Especial Oscar, algo me incomodava nesse filme e só depois de alguns dias é que consegui entender o que era… nessa história temos uma jornada de redenção dos vilões que muito me lembrou aquele filme porcaria “Crash – no limite”. Aquele filme lá tinha um objetivo único de mostrar que todas as pessoas tem 2 lados, bom e ruim, e fez isso da forma mais tosca e piegas possível. Já “3 anúncios para um crime” não tem essa mensagem como único objetivo, é um filme muito mais cheio de camadas, mas essa mensagem está ali também, e muito melhor desenvolvida é claro. O problema é que eu, rainha do maniqueísmo e princesa do rancor, não sou muito adepta dessa mensagem de redenção de vilões. Nunca perdoaria pessoas que fazem as coisas que as pessoas fazem ali naquele filme. O publicitário jogado da janela dar suquinho pro policial racista? O policial racista que passa o filme perseguindo e ameaçando a protagonista virar parceirinho de aventuras dela no final? Não gente… pra mim não rola esse papo de perdão não. Por mais que o policial racista tenha se dado mal, perdido o emprego, ficado todo queimado e tudo mais, eu queria ver ele apodrecendo na cadeia odiado por tudo e por todos. Não acho nada verossímil que uma pessoa bizarra daquela tenha mudado completamente de atitude depois de receber a cartinha do policial e então de repente se arrependeu de tudo e resolveu fazer a coisa certa. ENTENDO QUE ELE É FRUTO DO MEIO, mas mesmo assim, não quero redenção para ele.

Outra coisa é o final dúbio que eu também não curto… não combina com o resto do filme que é bem literal ao contar sua história pra chegar no final e deixar em aberto. Porém, ao colocar a protagonista cogitando matar o estuprador, além de todas as outras coisas “fora-da-lei” que ela fez, tipo incendiar a delegacia, o filme dá a essa personagem o mesmo tratamento que dá aos outros, mostrando que ninguém ali naquela cidade é santo e todos tem atitudes bizarras quando pressionados por uma situação tensa.

Outro ponto alto pra mim foi a cena do confronto dela com o estuprador dentro da loja. O filme foi perfeito em fazer ele vestir a carapuça e se incomodar com anúncios colocados nos outdoors. Não foi ele que matou a menina, mas ele vestiu a carapuça e foi lá confrontar a mulher como se ele mesmo fosse o estuprador a que ela se referia. Ou talvez foi ele mesmo que matou a filha dela e o exército encobriu porque ele era militar? Nunca iremos saber.

Mais um momento incrível foi a cena dela com o anão no restaurante, onde mais uma vez o filme nos mostra o quanto a protagonista, apesar de ser mega injustiçada e sofrer com problemas seríssimos, também não é santa. Ela luta contra o preconceito diário de ser mulher num mundo machista mas tem preconceito com o anão e diminui ele pelo fato dele ser anão. Leva um fora muito do bem dado.

Eu queria dar também meus 10 centavos sobre a discussão que surgiu apontando que esse filme é racista. Pra mim o filme retrata o racismo, expõe o quanto as pessoas são bizarras. Rola preconceito com negros, com mulher, com anão, com gordos, tem também uma personagem que é o estereótipo da mulher bonita e burra…. a lista é longa… mas pra mim o filme DENUNCIA essas coisas bizarras mas não apoia isso. Muitos disseram que a redenção do policial racista é que deu ao filme o tom de defesa e perdão dos racistas mas não me pareceu isso… achei que o filme conferiu essa jornada de redenção a todos os personagens, me pareceu que essa é a visão que o roteirista tem da humanidade, pessoas falhas mas que também tem lados bons. Como eu falei acima, não concordo com essa visão mas não acho que foi uma visão racista nesse caso, apenas foi uma visão ingênua.

Mesmo assim acho que caso esse filme ganhe o Oscar de melhor filme é merecido. Pois não importa se eu pessoalmente não curto a redenção de vilões, essa é uma visão totalmente válida sobre a humanidade e que traz alguma esperança, o que precisamos muito nos dias de hoje!

Deixe nos comentários a sua opinião, nós queremos saber! E até mais pessoal!

Post Author: Ana Campos

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