(Análise com spoilers, complementando o post do Especial Oscar 2018 que você encontra aqui)
A Forma da Água é um filme bonito e correto, mas que pecou pelo roteiro extremamente previsível. Além disso, não consegui me conectar com o casal mulher e criatura, não achei que a relação deles foi tão bem construída assim. Me pareceu apenas que o bicho era o único que dava atenção pra ela (ele estava PRESO ali né, não tinha muito o que fazer). Os outros amigos dela só tagarelam enquanto ela fica muda e, como ele também não pode falar, pela primeira vez ela tem uma relação com alguém que não fica só falando de si mesmo. Ela dá ovo e não tortura ele, e ele fica lá apenas olhando pra ela sem perceber que ela é muda. Mas só por isso então eles se apaixonam? Não achei uma construção forte o suficiente pra vencer a barreira inter-espécies de relacionamento. Pelo contrário, fiquei achando a mulher tão carente que precisa se relacionar com um bicho feio daquele (o que não tem nada de fofo, é apenas muito triste). Isso fica muito claro naquela cena em que eles estão na mesa da casa dela e ele está ali apenas comendo seu ovinho na dele, enquanto ela tá super sonhando com o “homem” perfeito dos filmes musicais que ela adora assistir – aliás, detestei essa cena deles dançando. Ficou claro o quanto ela apenas fantasia a relação romântica com ele e sabe disso, pois fala “você nunca vai saber o quanto eu te amo”. Não, ele nunca vai saber, ele tá lá só preocupado em comer o ovo, é um bicho do mar e ela precisou se apaixonar por ele porque os humanos não lhe davam atenção. Não consegui pensar “oh, que lindo casal”! Achei apenas a situação toda extremamente deprimente, tanto pro bicho quanto pra ela. Mas entendo quem curtiu e achou bonita a história.
No mais, achei que o roteiro teve tantos furos que me tiraram um pouco da trama… O laboratório tinha milhões de câmeras por todo o lado, até na garagem onde os funcionários fumavam, mas nenhuma câmera ali na sala do bicho… Pra fumar os funcionários tem que levantar a câmera e procurar um ponto cego, mas ela pode ficar horas ouvindo música e dando comida pro principal “asset” do laboratório sem ninguém perceber.
Outra coisa: todo o plano dela só deu certo porque o russo veio com a chave pra abrir o enforcador que prendia o bicho… Sem isso ela não conseguiria soltar ele, então foi uma solução totalmente “deus ex machina”, e isso empobrece demais a história.
Mais uma coisa: por que os americanos e russos queriam matar o bicho? Você tem um bicho daquele todo diferente com poderes de cura e pensa “hum, vou matar ele pra dissecar”. Eles próprios disseram que seria uma arma contra os russos; como vai ser uma arma estando morto? Se eles tivessem vários daquele tudo bem, até entendo pegar um, mas tendo um só os cientistas decidem que o melhor é matar? Duvido muito que isso aconteceria na realidade. Acho que eles ficariam estudando o bicho, fazendo procedimentos, experiências, mas não! Não fizeram nada disso, foram lá na Amazônia caçar só pra ficar torturando e depois dissecar. Não entendi nada.
Mas o pior de tudo foi o bicho ser tipo um Deus com poder de cura, mas ele próprio tava lá quase morrendo na banheira (não fica claro o porquê). Em vários outros momentos ele fica todo machucado pela tortura no laboratório e também não se cura sozinho, mas aí quando toma tiros já está forte o suficiente pra curar as balas que levou e ainda transformar a mulher em peixe. Cara, não… Ou você é super poderoso ou não é, não dá pra ser uma coisa num momento e outra no outro. Na hora que interessa ele é frágil e necessita de ajuda, só pra causar empatia no público, mas na hora do final feliz ele consegue fazer tudo de mágico que precisa fazer.
Além de tudo isso, achei que o filme sofre com péssimos diálogos. Tudo o que os personagens falam é estranho e não parece nada natural, não é o que as pessoas falariam naquele momento, e pra mim fez perder muito a credibilidade e verossimilhança na história.
Dito isso tudo, e ciente que a maioria não concorda comigo, acho que esse filme não deveria levar nenhum dos prêmios aos quais concorre. A cinematografia é sim muito boa, mas eu prefiro Dunkirk nesse quesito, e em design de produção prefiro mil vezes que ganhe o Blade Runner.
Esse filme concorrer a melhor roteiro original é uma piada. Além de ser acusado de plágio, ainda tem todos esses furos de roteiro que eu comentei. Se ganhar, vou ficar muito brava!
One thought on “A Forma da Água – resenha”-
Amanda
(16 de maio de 2018 - 23:30)Na verdade, também não achei nada demais, além disso, não acho que seja roteiro original, pesquise um filme chamado: O monstro da lagoa negra de 1954 com direção de Jack Arnold, há poucas mudanças entre a história do filme de 54 e a Forma da Água ou estou bem doida. Hahaha