Por que o Neymar chorou tanto no final do jogo contra a Costa Rica, depois de ter conseguido fazer seu primeiro gol na copa de 2018? Por que o time do Brasil se desestabiliza completamente quando leva um gol? Por que a seleção sofre “apagões” entre os jogadores, como aconteceu em 1998 e 2014? O fator psicológico, sem dúvida, tem um peso grande para os brasileiros – e a gente vai tentar entender os motivos disso!
Uma das primeiras razões que vem à mente é a nossa formação latina. Portugueses e espanhóis são tidos, junto com os italianos, como os povos mais expansivos e emotivos da Europa, ao contrário dos alemães e nórdicos, por exemplo. A frieza dos jogadores da Alemanha nas competições é bem visível: eles não se abalam com placares desfavoráveis, mantêm o mesmo ritmo durante todo o jogo e, frequentemente, levam a melhor. Já nós, com toda a carga emocional que trazemos em nossa cultura, podemos perder a calma e entrar em desespero quando a coisa começa a ficar ruim pro nosso lado… Mas será só isso?
Precisamos falar também sobre o nosso curioso patriotismo, que se manifesta exclusivamente de 4 em 4 anos. Esse vídeo, feito durante a partida entre Brasil e Costa Rica, diz muito:
httpssss://www.youtube.com/watch?v=h8BzctprsNU
No resto do tempo, o brasileiro se divide entre exaltar outros países (de preferência algum da Europa, ou os Estados Unidos) e apontar os defeitos do seu. Chama atenção até dos próprios estrangeiros a maneira como nos depreciamos. Esse relato de um estudante britânico mostra como ele se deu conta, depois de passar algum tempo aqui, de como só conseguimos ver o lado negativo de tudo que se refere ao nosso povo e enaltecer o que é importado: desde a música, passando pela comida, até o estilo de vida. Ele adora o Brasil por diversos motivos e pergunta: que país não tem problemas?
Quando Nelson Rodrigues cunhou a expressão “complexo de vira-latas” ele falava sobre “a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. Isto em todos os setores e, sobretudo, no futebol”. Na época, estávamos indo para o mundial de 58 ainda traumatizados pela derrota sofrida para o Uruguai naquela final no Maracanã, em 1950.
De lá pra cá, nosso futebol cresceu, ganhou corpo e conquistou 5 mundiais. Temos então mais uma pista para nossa relação conturbada com o futebol: talvez seja a única hora em que acreditamos merecer o respeito do resto do mundo. A única área em que temos algo de realmente bom para mostrar lá fora. E precisamos desesperadamente mostrar que, pelo menos nisso, somos os melhores.
A desolação do David Luiz depois do fatídico 7×1 mostra um pouco desse sentimento:
httpssss://www.youtube.com/watch?v=rvFgf3SKpPw
“Eu só queria dar alegria ao meu povo, à minha gente que sofre tanto… Só queria ver meu povo sorrir”. Os caras acabam virando os responsáveis por garantir aos brasileiros o direito a alguma dignidade. Agora imagina a pressão psicológica em cima de quem veste essa camisa e recebe esse tipo de cobrança?
Por último, não dá pra passar despercebida a atuação massiva da mídia. Por lucrar (e muito) com as transmissões e todos os produtos que envolvem o futebol brasileiro, ela precisa manter o povo interessado, obstinado pelo esporte. Pra isso, não mede esforços: monta uma mega estrutura pra cobrir os jogos, não fala de outra coisa em sua programação, e cria garotos-propaganda. Assim foi com Ronaldo e está sendo com Neymar.
O “menino Ney” é um jogador talentoso, sem dúvida. Mas o que se vê é um esforço desmedido pra fazer dele um herói, o que já é forçar um pouco a barra. Em suas atuações na copa não se viu, até hoje, nada que justifique esse título, pelo contrário: Neymar tenta cavar faltas inexistentes, xinga jogadores, desmoraliza o adversário. Tudo isso pode ser uma resposta inconsciente à pressão sobre sua figura, mas ainda assim não justifica o seu endeusamento.
A verdade é que podemos enumerar diversas razões mas, no fim das contas, só nos resta torcer. Pelo Brasil? Sim, claro: torcer pra que a gente entenda que o Brasil pelo qual precisamos brigar e sentir orgulho não se resume ao futebol… Aí é que vai ser bonito!