Vamos falar de masculinidades? Para conduzir a discussão, ilustremos com o exemplo… da Pabllo Vittar. What?!
Na realidade, o case Pabllo Vittar – mais especificamente a recepção da presença da cantora hoje, no global “Encontros” – permite descortinar um paradigma ainda latente em nossa sociedade, no que diz respeito aos ideais de gênero.
A mídia (através da publicidade, da televisão e da Internet) e a moda têm realizado um notável esforço para afirmar uma nova configuração de masculinidade ocidental, aquela comumente chamada de “novo homem”. A seu respeito, os homens do século XXI estariam se desligando dos valores e ideais tradicionais do que seria “ser homem”, ainda transmitidos pelos nossos pais em nossa criação, em relação à afetividade, às relações parentais, à vida profissional e, sobretudo, à aparência (vestuário, gestual etc.).
Assim, questionando a masculinidade (singular), frente às masculinidades (plurais), automaticamente as outras identidades de gênero acabam vindo à tona, uma vez que a configuração social ainda é centrada no patriarcalismo e na matriz heterossexual – a chamada heteronormatividade.
Já que estamos falando de senso comum, acho importante ir além do discurso midiático e perceber como as pessoas “comuns” se posicionam diante do assunto. Logo após o fim da apresentação da drag Pabllo Vittar no talk show matinal “Encontros”, atração apresentada pela Fátima Bernardes e voltada à discussão de assuntos do cotidiano, vi alguém no Facebook compartilhando uma matéria do Jornal Extra, reportando a participação da Pablo. Ao abrir os comentários, a grande maioria (homens e mulheres) criticava a postura da emissora em querer “empurrar pela garganta o (sic) ‘homossexualismo’”, destruindo, assim, a noção de “família tradicional”.
O que está em discussão aqui não é o talento, o carisma ou a controversa habilidade vocal da cantora, mas sim a sua representatividade e o modo como a sua imagem afeminada parece agredir a noção do que é certo e errado, do que é masculino e feminino… Como ainda somos binários, não?
O “novo homem” midiático já conhecemos, mas e o “novo homem” comum? Onde estaria ele e os seus ideais? Aliás, ele “existe”?
Sobre a Pabllo, já atingimos a aceitação cômica da caracterização de um homem como mulher – oi, Dona Hermínia? -, mas pelo visto não estaríamos prontos para a performance identitária masculina do feminino.
Tóxica masculinidade…