“A propaganda política está para uma democracia assim como o porrete está para um Estado totalitário.” Essa frase traz verdades, né non? Assim como todo o livro Mídia: propaganda política e manipulação, do Noam Chomsky. Em tempos de crise e polarização política, muita coisa se fala, muito post inflamado inunda a timeline (você descobre que sempre esteve cercado de cientistas políticos e não sabia), muito meme se compartilha, mas a verdade é que pouca gente tem realmente alguma ideia do que tá acontecendo. É mais ou menos disso que esse livrinho (o diminutivo é só por ser curto e rápido de ler) trata.
Só pra começar, ele já manda o papo de que uma pequena elite de empresários detém o poder no mundo – e a mídia trabalha pra ela. Pra essa panelinha, o povo é estúpido e ignorante demais pra sacar que futuro é melhor pra ele (daí a expressão “rebanho desorientado”) e precisa de uma “classe especializada” pra conduzir essa galera. Só que numa democracia, teoricamente, as pessoas participam dos assuntos que afetam suas vidas, certo? Como é que se consegue então que trabalhem pra interesses que não são os delas? A jogada é fazê-las achar que estão decidindo alguma coisa, escolhendo o que é melhor pra elas… Só que não.
A ideia é genial, mas a coisa tem que ser feita de maneira discreta. É aí que a mídia entra com uma tarefa fundamental: doutrinar o rebanho, incutir nele os pensamentos que sustentam a estrutura de poder existente. Ele só não pode perceber que vai trabalhar pra servir aos interesses dos poderosos, mas nunca será parte deles…
A imprensa prega um discurso que beneficia aquele pequeno grupo dominante. Somos ensinados que pra ter algum valor na vida temos que consumir e trabalhar muito, pra assim alcançar o padrão de vida dos nossos patrões (esse sim o ideal). Aí a gente entende, por exemplo, porque a classe média cai de pau em cima de quem faz greve por melhores condições de trabalho: ela foi ensinada a pensar que os grevistas são desordeiros e anti-patriotas. Os cidadãos de bem são trabalhadores, donas de casa, empresários; essezinhos só querem fazer furdunço.
Outra estratégia fundamental, segundo Chomsky, é manter as pessoas isoladas, dificultar sua organização. Muita gente se juntando só traz problema. Pra resolver isso bora manter a galera em casa vendo novela, série… E com medo. Nada como o medo pra deixar todo mundo quietinho, isolado, com medo de sair. Sozinho e amedrontado ninguém troca ideia, não questiona, não pensa.
Também é importante, talvez mais do que tudo, escolher cuidadosamente como dar as notícias: não se pode simplesmente relatar o que acontece, ou corre-se o risco de alguma ovelha sacar que tem alguma coisa errada na história…
A esperança nessa história toda é que, mesmo com todo esforço de controle das massas, o número de pessoas acordando vem crescendo: o movimento negro, feminista, LGBTQ+ estão conseguindo avanços ainda pequenos, mas importantes. As pessoas estão desligando a TV, pesquisando, se informando – e não tem nada mais “perigoso” do que gente informada. Pra não sermos meros espectadores, a boa é dar aquela pesquisada na fonte da notícia antes de compartilhar, se questionar se por trás daquela informação não tem algum interesse infiltrado, e por aí vai. E não custa dar uma lida em Mídia: propaganda política e manipulação. Em terra de Fake News, quem tem esse livro é rei.