Algumas coisas são universalmente nojentas. O Nojo nos afasta de tudo aquilo que nosso organismo não suporta manter contato através dos sentidos. O cheiro desagradável, o sabor que sabemos ser repugnante, o aspecto e a textura nojentos, enfim, detectamos certas características físicas que são aversivas para nós e assim evitamos o contato com tais elementos.
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Essa emoção é muito comum na alimentação. Certos alimentos simplesmente “não descem”, especialmente quando somos crianças. Mas é comum nos acostumarmos com os alimentos que nos geravam aversão nos nossos primeiros anos de vida, e em alguns casos, até passamos a gostar deles. Existe uma função de sobrevivência no Nojo, já que alimentos com aspecto ou cheiro estranhos podem nos fazer mal.
O início dessa cena do filme Divertida Mente mostra direitinho essa relação das crianças com alimentos que lhe parecem ruins só pelo aspecto. Riley rejeita completamente a comida mesmo sem nunca ter provado antes.
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A sujeira também é naturalmente aversiva ao ser humano. Para que evitemos contaminações, sentimos Nojo de doenças e de locais que possam ameaçar a nossa saúde ou bem-estar. É importante manter essa reação ao perigo de doenças, porém tendemos a generalizar se não tomarmos cuidado. A Aversão exagerada a contaminação faz com que tudo passe a representar ameaça a nossa saúde, gerando em algumas pessoas a fobia de contaminação, chamada Misofobia. Nesse estágio, a pessoa passa a ter problemas inclusive sociais, pois tudo passa a ser considerado imundo. No filme, vemos o conflito que se passa internamente na jovem Riley entre o Nojo da sujeira do chão e a leveza da Alegria, que tenta controlar o nível do Nojo para que não se torne exagerado.
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O nojo exagerado de doenças pode nos fazer sentir repulsa pelas pessoas doentes, não só pela doença em si. Isso é um problema, pois nossa visão se torna menos humana e empática nesses casos, e vemos o doente como parte da doença, muitas vezes deixando de enxergar o ser humano, que precisa de ajuda.
Interessante que, como todas as outras emoções básicas, o Nojo não é sempre algo que as pessoas evitam. Em situações controladas, como a Tristeza numa música e o Medo de um filme de terror, como já vimos em posts anteriores, o Nojo também tem seus adeptos. Basta lembrarmos o quão comum são as piadas que envolvem nojeiras, e até algumas lojas que são especializadas em artigos com temáticas aversivas, como almofadas em formato de fezes, brinquedos que usam gosmas, e as famosas balas do filme Harry Potter que possuem vários sabores nojentos, como cera de ouvido, vômito e ovo podre.
Existem autores que consideram a Intimidade um estado que reduz o Nojo. Podemos perceber isso nas mães que limpam seus filhos com um nível de Aversão reduzido, filhos adultos que precisam dar banho em seus pais que já não possuem mais autonomia suficiente para cuidarem da própria higiene e, especialmente, vemos essa redução do Nojo nas relações sexuais. No sexo, que independente de laços afetivos é um ato de intimidade física, pode ocorrer uma neutralização do Nojo que normalmente seria sentido em outras ocasiões, ou com outras pessoas. Até no beijo não se encara a saliva da mesma forma que fora dele.
Mas o Nojo não tem apenas a função de nos fazer evitar aquilo que é aversivo fisicamente, mas também socialmente. Condutas consideradas repulsivas moralmente podem nos gerar nojo e nos afastar da pessoa que apresenta esses comportamentos. É como se não quiséssemos ser contaminados pelo comportamento aversivo alheio. Isso acontece com frequência em relação a atos abusivos de natureza sexual, ou de covardia, como de pessoas agredindo inocentes ou vulneráveis.
Existe o grande perigo de juízos errados a partir de reações aversivas. Corremos o risco de deixar de tratar alguém como um ser humano por sentirmos aversão a algo que não entendemos ou que foge de nossa cultura, como é o caso de quem sente nojo de presenciar duas pessoas do mesmo sexo se beijando, e que por isso as condenam.
Mais uma vez, vemos que as emoções básicas não são vilãs. São necessárias e muitas vezes até as buscamos. Toda emoção exagerada gera uma distorção no comportamento, e é isso que precisamos evitar. Crianças jogam o prato de brócolis no chão. Adultos são capazes de almoçar numa mesma mesa juntos, cada um com o prato segundo seu próprio gosto.