Segunda-feira… comecei a semana encontrando, assim meio “ao acaso”, um recorte de jornal “O Globo” datado de 24 de setembro de 2005.
A folha já amarelada mostrava um eu, meu eu, pós-adolescente, no auge da minha euforia juvenil, intensificada pelo azul de metileno que coloria os meus cabelos. Na reportagem, jovens fotografados esperando pelo show da Avril Lavigne na Apoteose, que ocorreria dalí a alguns dias. O fato de essa memória ter vindo a mim (sim, não acredito em coincidências) deu todo um colorido à minha manhã. E, então, me lembrei do quanto conhecidos zombaram de mim na época. Também, dos muitos memes (alguns bem feios até!) criados com os fãs da Lady Gaga, que a aguardavam na frente do hotel em que ficaria hospedada em sua vinda ao Rock in Rio, há duas semanas, mas que foi cancelada na véspera (ainda não superei rs). Ainda, dos fãs do Justin Bieber, que dormiram nos arredores da mesma Apoteose em que eu estive, há exatos 12 anos.
Isso me conecta a um termo que li certa vez, chamado “juvenoia”, que seria uma aversão (ou paranoia) a coisas de jovens. Quer um exemplo da juvenoia? Procure algum vídeo no Youtube, de períodos passados, como os do Festival da Música Brasileira, e vá até os comentários. É comum perceber falas do tipo “isso era música, não essa porcaria de hoje!” ou “se os jovens soubessem o que é música boa, não ouviriam essas porcarias de Anitta, funk e sertanejo universitário!”.
Não reconhecer como legítimas as experiências sócio-culturais que as crianças e os jovens podem ter seria o mesmo que negar que a juventude tenha sua própria especificidade, e que a identidade dessa galerinha será construída a partir de tais vivências. Uma fila de um show não é apenas um simples posicionamento ordenado de pessoas aguardando para um evento, mas um campo riquíssimo para refletir questões de classe, gênero, sociabilidade, consumo…
O documentário Waiting for B. percebeu isso, ao captar as emoções e interações construídas pelos fãs da Beyoncé, que acamparam mais de 50 dias para assistir ao show da cantora no Estádio do Morumbi. No vídeo, destaco a cena em que, acampados e temendo algum tipo de reação homofóbica, os fãs limitam seus corpos e gestos para a passagem dos torcedores de um time de futebol que estaria jogando em uma das noites. Nessa cena, é perceptível que, embora aparentemente opostos e separados por uma barreira invisível, os torcedores também performam como fãs: chegam com horas de antecedência para o início jogo, usam camisas “temáticas” (no lugar do rosto da Beyoncé, as cores da bandeira do seu time), faixas, cartazes, vibram e gritam… gritam muito!
httpssss://www.youtube.com/watch?v=Wb5rxUd5N8w
12 anos depois do recorte de jornal, o fluxo segue… Outros fãs, hoje, dormem na fila para ver a Avril Lavigne (hehe dormiriam, quem sabe, se ela estivesse na ativa rs) ou qualquer outro artista, seja ele do pop ou do rock, como nossos pais já fizeram nos Woodstocks e Rock in Rios da vida. Ou seja, não se trata de um recorte geracional tampouco de rupturas, mas sim de continuidades. O mais importante é que essa fantasia vivida vai seguir comigo, e sempre será lembrada como uma boa memória. Acho importante que saibamos respeitar que os jovens vivam as suas, porque elas fazem parte do seu processo de amadurecimento. Como canta a Lorde, em “Royals”: Let me live that fantasy!