Quem não possui o hábito de jogar videogame deve achar esse assunto sem sentido, mas muitos gamers já tiveram essa experiência: Se emocionar com um jogo a ponto de chorar. Estranho?
Tão estranho quanto chorar vendo animação há uns 30 anos atrás. Eu não sei vocês, mas minha impressão é a de que tem gente que chorou vendo O Rei Leão em 94 e só foi contar em 2010, quando tava geral chorando com Toy Story 3.
Mas com relação a indústria de games, o rótulo de infantil e superficial ainda reina. No entanto, a princípio, qualquer obra que conte uma história triste ou que tenha uma música maldita que pega no ponto G do seu coração tem chances de fazer chorar de emoção, mesmo se a obra for um mero joguinho de videogame.
Analisando bem, jogos tem até algumas características que os tornam potencialmente mais envolventes do que outras obras áudio visuais. Primeiro que nosso papel jogando videogame é mais ativo do que assistindo um filme. Nós “somos” o personagem. Segundo que nos games, normalmente, nós precisamos de pelo menos umas 8 horas de atividade pra chegar no final. Isso num jogo pequeno. Boa parte deles chega a 20-30 horas de duração, com alguns passando até das 100 horas. É muito mais tempo de investimento emocional do que qualquer filme.
Será que a gente conta para alguém, ou esconde para o resto da vida? Espera isso virar “cool” daqui a 10 anos ou será que pode chorar agora?
Spoiler: sim, você pode chorar a hora que quiser com jogos ou com qualquer outra coisa.
Aliás é um ótimo sinal que você chore com experiências deste tipo. Pesquisas realizadas na Claremont Graduate School, na Califórnia, apontam que pessoas que choram vendo filme liberam oxitocina, que seria um hormônio que melhora nossa capacidade de se “conectar” com os sentimentos de outra pessoa. Portanto se você chora com jogos por causa de um personagem que morre, ou uma cena de romance, ou qualquer situação envolvendo o estado emocional de alguém que você está acompanhando no jogo, você é uma pessoa empática, e isso é um sinal de resiliência e força, não de fragilidade. Toma essa.
Se seu lance é com música, a ciência também já está tentando te explicar o que acontece contigo nessas horas: segundo o pesquisador David Huron da Universidade de Ohio, ouvir canções melancólicas podem aumentar a produção de prolactina no organismo, que é um hormônio que ajuda a reduzir a dor. O organismo identifica o tom triste da música por associação, e deduz que você está precisando de prolactina pra lidar com algum sofrimento. E como você não está em estado real de dor, o aumento nas taxas deste hormônio pode gerar sensação de prazer. Então músicas tristes podem acabar fazendo bem, quem diria?
Eu acabei de jogar The Last Guardian nessa semana, e isso acabou me inspirando a postar algo sobre o assunto “chorar jogando videogame”. Pra quem não conhece, nesse jogo (relaxa que esse post é spoiler free) você é um menino fofo que precisa fugir de um lugar estranho com a ajuda de um bicho que tem a aparência de um monstro e a personalidade de um filhote de cachorro. Ou seja, prato cheio pra rolar uma lágrima.
Você começa o jogo acordando neste lugar que não conhece, cheio de tatuagens bizarras pelo corpo todo, do lado dessa criatura enorme rosnando, ferida e acorrentada. Você alimenta a fera, retira as lanças que estavam fincadas nele, solta a corrente, e ele passa de ameaça pra pet. Você o chama de Trico e ele passa a te seguir pra sempre.
E gente… o bicho apanha. MUITO. E você é só um garoto que não pode fazer absolutamente NADA. Eu passo a maior parte do jogo mandando mentalmente os inimigos deixarem meu cachorro EM PAZ!
E como se não bastasse a tortura de ter que assistir o coitado sendo atacado, quando ele não tá apanhando ele tá ou me olhando assim:
Ou tentando passar em portas pelas quais ele claramente não tem dimensões pra passar:
Ou CHORANDO porque eu o deixei sozinho, pra no caso tentar achar alguma coisa pra ajudar nós dois a fugir desse lugar, mas ele não entende! Quando ele começa a uivar eu já pego meu lenço imaginário. E a coragem pra deixar ele sozinho numa hora dessa?
httpsss://httpssss://www.youtube.com/watch?v=N4kdDd1tDhg
A música também ajuda na carga dramática porque o jogo praticamente não tem música. Então quando começa alguma, é sempre um evento importante.
httpsss://httpssss://www.youtube.com/watch?v=kQxLG3ONnXg
E o final do jogo obviamente é o ápice da emoção dessa experiência, um encerramento digno do que o jogo se prepõe a fazer. Chorei? Digamos que caiu uma oxitocina aqui no meu olho sim. Deu até pra esquecer dos momentos irritantes por causa do controle impreciso e da câmera maluca. Vale muito a pena ir até o final, joguem!
Pronto. Eu precisava tirar isso do meu peito. E vocês? Choram com jogos? Quais foram os jogos mais “choráveis” pra vocês? Acreditam nos benefícios apontados pelas pesquisas? Recorrem a lenços imaginários? Tem uma reputação a zelar? São mortos por dentro? Comentem.
Pesquisas:
httpsss://www.nexthumanproject.com/references/Empathy_Towards_Strangers_Claremont.pdf
httpssss://musiccog.ohio-state.edu/home/data/_uploaded/pdf/prolactin2011.pdf
2 thoughts on “Chorar jogando videogame?”-
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Nat
(18 de maio de 2018 - 00:37)Ahhhhhh Trico ❤️
Cheia de oxitocina aqui. Coincidentemente, fiz uma pausa no choro que eu estava tendo causado por um LIVRO pra vir aqui entender qual é a do tal cachorro e gente … Pena que não sou jogadora
Felipe Lyrio
(18 de maio de 2018 - 11:58)Livro também tem uma participação mais ativa da gente, né, que é a imaginação. Será que nesse caso quem tem mais bagagem emocional ou mais imaginação chora mais? Mais pesquisa pra eu procurar ahahah.
E todos somos jogadores! É só achar o jogo certo =)